Você é Praticante de Boas Obras ou é Salvo?

Pedro em casa de Cornélio
Ilustração de Gustave Doré

A posição das obras na vida do homem no que respeita à salvação, sempre foi ao longo dos séculos da era cristã e julgo que continua a ser, palco de grandes debates e controvérsias.
O exemplo bíblico que tomarei em conta será de um homem chamado Cornélio. Sua história é narrada no capítulo 10 de Actos dos apóstolos. Era também um homem de estatuto elevado, era um centurião romano, centurião da corte chamada italiana, ou seja, ele tinha sob sua autoridade, o comando de 100 soldados. Talvez fosse um prosélito, ou seja, um homem convertido ao Judaísmo, havendo contudo nisto algumas divergências, quanto a isto ser assim ou não.

Este homem possuía uma série de virtudes e práticas de vida bastante honrosas, mas como veremos, estas não foram suficientes para lhe garantir a salvação de sua alma. Eu não tenho dúvidas olhando para a história e modelo de vida deste homem, que apesar de não ter conhecimento da salvação em Cristo, praticava muitas coisas que muitos de nós não o faz, ou ficamos muito aquém.

Vejamos algumas destas obras registadas:
  1. Era piedoso Act. 10.2
  2. Era temente a Deus. Não somente ele era, mas também levava a sua família e seus soldados a sê-lo. Act.10. 2,7, 24

  3. Era generoso para com os pobres. Fazia muitas esmolas ao povo, ou seja, pensava no seu próximo At.10.2
  4. Orava a Deus continuamente e jejuava Act.10.2,30
  5. Era varão justo Act.10.22
  6. Dava bom testemunho entre a nação dos judeus v.22
Perante tamanha lista de virtudes, quem de nós ousaria dizer se Deus não nos mostrasse pela Sua Palavra que este homem não era salvo?
A palavra de Deus mostra que ninguém merece o céu por sua bondade ou por aquilo que obra, mas sim pela bondade e misericórdia de Deus e por aquilo que Jesus já fez na cruz do calvário. Cornélio, assim como talvez pessoas que conheçamos são bastante generosas, sempre vivem com um grande sentimento filantrópico, vivendo em ajudar ou outros, sem daí querer tirar proveito pessoal, ajudam despidas de interesses egoístas, espécie esta de pessoas que hoje também diga-se de passagem já se encontra em vias de extinção. Porém e embora, humanamente não nos pareça coerente, a bíblia afirma que nada disto dá acesso, ou nos cativa um lugar no céu junto de Deus.

É comum ouvirmos pessoas dizerem que merecem o céu porque conhecem outros piores do que ele. Diz a palavra de Deus: “…não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm.3.12). Podemos pois correr o risco de querer “fabricar” a nossa salvação com nossas obras.

Na verdade fazer boas obras é algo bastante contemplado e apreciado por Deus, e isto também se vê na forma como Deus dá testemunho do próprio Cornélio, através de um anjo, quando diz: ”As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus.” (At.10.4b) Assim sendo nos interrogamos: Se as obras fossem a base para adquirir a Salvação, porquê este homem, não era já salvo? Não há dúvida que há um passo primário a dar, para assim tudo aquilo que possamos fazer, se possa enquadrar dentro da Salvação.

É interessante que no Sermão do monte, descrito em Mateus 6 Jesus apresenta 3 coisas que faziam já parte da vida de Cornélio de uma forma correcta, antes mesmo de aceitar Jesus pela fé. São estas:
1) Esmolas Mt.6.2-4
2) Oração verss.5-8
3) Jejum verss.16-18

A palavra de Deus nos mostra em Efésios 2.1 que anteriormente à salvação estávamos “mortos em ofensas e pecados”. Se assim é, como pois alguém que está morto diante de Deus pode fazer algo para se salvar?

Este tipo de morte deve ser encarado não como uma posição fatalista ou determinante, a menos que, este seja o caminho que escolhamos para nós. A expressão morte na Bíblia, em determinadas passagens (assim como esta) assume uma posição de separação de Deus, causada pelas tais “ofensas e pecados” e não como algo para sempre irremediável. Em Isaías 59.2 diz: “As vossas iniquidades fazem separação entre vós e Deus”. Isto indica que nós estamos separados (mortos), mas não estamos de todo destruídos, pois ainda nos resta a possibilidade de aceitarmos a obra de Cristo em nossas vidas. Como alguém afirmou: «A imagem de Deus nos seres caídos está desfigurada, mas não apagada».

É necessário primeiro estar em Cristo, ser uma nova criatura, como nos indica 2Cor.5.17 em que as coisas da velha vida fazem parte do passado, assim sendo dá-se a vivificação em Cristo (Ef.2.5) para que depois sim, mediante esta nova vida executar algo bom, não para se ter vida (salvação) mas porque já se tem vida (salvação).

O texto de Efésios 2.8 apresenta-nos 2 pontos importantes a salientar:
1) Deus oferecendo Salvação (dom) ao homem por meio de Sua graça - Cristo

2) O homem estendendo a mão por meio da fé, crendo

No versículo 9, diz que esta salvação: “não vem das obras”, e porquê? Temos a resposta: “para que ninguém se glorie”. Não há dúvida que devemos reconhecer que somos bastante tendenciosos a gloriarmo-nos naquilo que fazemos e até nos podemos gloriar em matéria de coisas seculares, porém no que diz respeito à Salvação, Deus não dá ao Homem esta possibilidade.

Muitos vivem cansados porque vivem executando tanta coisa na convicção de que, naquilo que fazem, está o alívio, a salvação para sua alma. Cristo convida aos cansados e promete o alívio para suas vidas (Mt.11.28). Que mais carrega e escraviza o homem senão seus próprios pecados e a tentativa interior de se livrar deles?

Numa parábola que Jesus contou, (Lc.18.11,12) Ele apresenta um fariseu a gloriar-se dizendo: “Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens…” e seguidamente apresenta suas obras, como prova de sua justificação, dizendo: “Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo”.
A questão não passa por aquilo que ele faz, como sendo algo incorrecto, porque não é, mas sim a intenção com que faz. Diz que Jesus contou esta parábola “a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros” vers.9. A parábola continua dizendo que este homem que falou desta forma não foi justificado diante de Deus. vers. 14

Alguém afirmou: «A macieira não dá maçãs para ser macieira mas sim porque esta o é em sua natureza».
Assim e deste mesmo modo as obras não devem surgir em prole de uma futura salvação mas sim porque esta é a nossa natureza já neste mundo, e porque já experimentamos o novo nascimento por meio de Cristo.

Sobre a não necessidade das obras para a Salvação temos o exemplo do ladrão arrependido, crucificado ao lado do Salvador. Que obras ele fez para merecer a Salvação e ter naquele mesmo momento a bendita promessa da boca de Jesus, de que: “Hoje estará comigo no paraíso!?” Afinal nada podia fazer, estando de mãos e pés pregados.

Tantas pessoas pelo mundo afora que se dedicam a peregrinações, às mais variadas penitências, às esmolas e doações, a suplícios corporais mortificando seus corpos (ascetismo), tudo com o propósito de ganhar um lugar no céu. Muitos são os exemplos.

Há bem pouco tempo ouvi um testemunho de ex-sacerdote católico que seguiu  a vida eclesisástica  na tentativa de encontrar a salvação. Ele chegava a colocar até pedras em seus sapatos para assim sofrer pela sua salvação, ele evitava cobrir-se nas noites mais frias para que assim seu corpo sofresse, ele chicoteava-se assim que constatava sua ignorância perante seus superiores - Tudo pela SALVAÇÃO.

Também algumas pessoas fazem caminhadas, entenda-se a pé, desde a Alemanha para um conhecido “santuário” em Espanha.

Uma outra pessoa, um português, no mês de Outubro de 2009, creio eu, começou uma caminhada do norte de Portugal em direcção a Israel - Jerusalém, à Terra Santa, parece-nos impensável, mas é verdade. Uma caminhada que durará cerca de 10 a 12 meses. Tudo isto com um alvo, disse a pessoa: «Para se encontrar com Deus e consigo próprio.»
A mulher samaritana também tinha dúvidas quanto ao lugar geográfico em que se deveria adorar a Deus, ter um encontro com Ele ao que Jesus responde: “os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem” (Jo.4.23), ou seja, o problema não está em nossa posição geográfica para encontrar Deus mas sim em nossa posição de coração e vida.

Ora a palavra de Deus diz que não há outra forma de nos chegarmos a Deus a não ser por meio de Cristo. Jesus afirmou: “Ninguém vem ao Pai, se não por mim” (Jo.14.6). Isto foi dito ao discípulo Filipe que também tinha o interesse de ver Deus Pai, compreendemos então que este desejo de ver Deus não é algo novo, inclusive Moisés demonstrou este mesmo desejo (Ex.33.18-20). Jesus disse a Filipe que quem O visse(a Jesus) via o Pai.
Jesus não veio encurtar distâncias para o céu, Ele não é uma alternativa para chegar a Deus; Para o céu não se aplica o pensamento popular que: «todos os caminhos vão dar a …» Jesus Ele é O caminho, e é a única forma de termos um encontro com Deus e posteriormente connosco próprios. Ele é a expressa imagem de Deus (2Cor.4.4, Cl.1.13-15)

Em Tito 3.5,7 aponta para a impossibilidade e ineficácia de adquirir a justificação mesmo diante de nossas “obras de justiça”, mas sim somos justificados pela Sua (de Deus) graça. No mesmo sentido Paulo esclarece aos Romanos 3.24 dizendo: “Sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”. E no versículo 27 revela que o nosso orgulho, nossa jactância é excluído não pela lei das obras mas sim pela lei da fé, pois se dependesse das obras da Lei haveria certamente muito orgulho de nossa parte.

As nossas melhores obras realizadas no sentido de “comprar a Salvação”, são como trapos de imundícia aos olhos de Deus (Is.64.6). Enquanto este for nosso propósito estamos a dizer a Deus: «Sinto muito mas a Salvação na pessoa de Jesus e Seu sacrifício na cruz não chega para a minha salvação». Sempre estamos achando que o plano de Deus foi imperfeito e é incapaz de nos salvar e vivemos a acrescentar coisas à obra do Calvário.

A palavra de Deus demonstra que não há nada que pode pagar a salvação de uma só alma pois esta vale mais que o mundo inteiro (Slm.49.6-8, Mt.16.26). Então, assim sendo, como podemos pensar em construir um “fundo” de boas obras para adquirir a mesma? Há apenas uma obra que nos justifica – A fé em Cristo (Rm.4.4-7).

Fazer o melhor possível, não é suficiente não chega, para adquirirmos a Salvação. Pois conscientemente nenhum de nós consegue atingir a perfeição em qualquer coisa que faça. Portanto, confiarmos no nosso melhor é confiarmos em nossa imperfeição.

Deus não ignora as boas obras (Ecl.12.14, Tt.2.14; 3.14), como vemos em Cornélio, porém não podemos colocar estas em substituição à obra perfeita, acabada que Cristo realizou por nós. Se assim não fosse, achamos pois necessário a vinda de Cristo a este mundo para dar Sua vida na cruz do Calvário?
É certo que se dependesse exclusivamente de nós, não faz qualquer sentido tanto sofrimento pelo qual o Filho de Deus passou.
Amigo, irmão onde na verdade se tem fundamentado a salvação da tua alma, porventura naquilo que tens realizado ou única e exclusivamente na cruz de Cristo?

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