O Coração do Homem - Inconstância em Confiar [2]


Nota:
Com base em Génesis 26.7-9, estou abordando 4 aspectos do coração humano em 4 artigos. Sendo este o segundo. Leia o primeiro artigo AQUI

7 E perguntando-lhe os homens daquele lugar acerca de sua mulher, disse: É minha irmã; porque temia dizer: É minha mulher; para que porventura (dizia ele) não me matem os homens daquele lugar por amor de Rebeca; porque era formosa à vista. 9 Então chamou Abimeleque a Isaque, e disse: Eis que na verdade é tua mulher; como pois disseste: É minha irmã? E disse-lhe Isaque: Porque eu dizia: Para que eu porventura não morra por causa dela. Gên 26:7-9

O CORAÇÃO DO HOMEM É INCONSTANTE EM SUA CONFIANÇA EM DEUS
Já dissemos que o medo atrapalha a confiança em Deus, mas é necessário destacar que, quem já confiou em Deus, também já o deixou de fazer.
Afinal, só podemos falar de confiança em Deus porque existe precisamente a possibilidade de não o fazer. Quando não confiamos em Deus, desconfiamos d'Ele.
E quem nem nunca desconfiou de Deus?
Parece uma palavra forte demais “desconfiança”, quando a aplicamos para definir um posicionamento nosso em relação ao próprio Deus, mas esta é uma realidade. Por vezes amenizamos a palavra “desconfiança” pelo eufemismo “falta de confiança”.
Talvez alguns dirão: “Eu nem sempre confiei em Deus, mas nunca desconfiei de Deus”.
Isto talvez passe perto daquilo que uns chamam a mentira de inverdade. Somos tão hábeis a racionalizar nossos pecados, reduzindo-os a meras expressões e palavras.

Não temos razões para desconfiar de Deus:
Já temos visto que Deus pretende reafirmar sua aliança com Isaque, como havia pré-estabelecido com Abraão, seu pai. Isaque poderia olhar para si mesmo e perceber que era a prova evidente da fidelidade de Deus. No entanto, neste preciso momento, ele desconfia das potencialidades do seu Deus.
Faríamos bem, quando a dúvida, a desconfiança surgisse, olharmos para nós próprios e percebermos que somos fruto de uma infinita graça divina.
Várias vezes em momentos de grande consternação espiritual, alguns grandes homens de Deus lembravam as maravilhas de Deus para com o povo Israel:
"E confirmaste a teu povo Israel por teu povo para sempre, e tu, SENHOR, te fizeste o seu Deus."  (II Sam 7 : 24)
21 E quem há como o teu povo Israel, única gente na terra, a quem Deus foi resgatar para seu povo, fazendo-te nome com coisas grandes e temerosas, lançando as nações de diante do teu povo, que resgataste do Egito? 22 E confirmaste o teu povo Israel para ser teu povo para sempre; e tu, SENHOR, lhe foste por Deus. (I Crôn 17:21,22)
E tiraste o teu povo Israel da terra do Egito, com sinais e com maravilhas, e com mão forte, e com braço estendido, e com grande espanto, (Jer 32:21)

Realmente o que poderia, o Deus de toda a terra, fazer com um miserável que d'Ele desconfia e age como senhor de sua vida de forma arrogante e petulante?
"SENHOR, que é o homem, para que o conheças, e o filho do homem, para que o estimes?"  (Salm 144:3)

5 EFEITOS DESTA DESCONFIANÇA AMEAÇADORA

2.1. A DESCONFIANÇA EM DEUS LEVA-NOS A SERMOS SELECTIVOS: 
Podemos ilustrar isto, pensando na possibilidade das diversas áreas da nossa vida poderem ser colocadas em caixas separadas e quais Deus estaria autorizado a cuidar.
No caso de Isaque, Deus foi capaz de guiá-lo, orientá-lo até aquele lugar, no entanto Isaque demonstrou que havia áreas que ele mesmo teria de agir como o guardião de sua família e instrutor.
Seria mais ou menos como: ”Deus guiou-me até aqui, agora o resto faço eu”
Podemos estar certos que isto não deve ser visto como Isaque fazendo a parte que cabe-lhe [há outras partes do texto que faz referência à responsabilidade pessoal]. Porque não?
Porque, quando fazemos a parte que cabe-nos em concordância e sintonia com a vontade de Deus as coisas irão produzir efeitos de justiça e santificação. Não foi isso que aconteceu com Isaque. 
Isaque desconfiou de Deus, achando que Deus não seria capaz de guardar sua esposa, nem a ele, mas “ele sabia” exactamente o que fazer e como fazer. Neste caso - mentindo.
É por vezes, nestas situações de desconfiança que tentamos dar uma “mãozinha” de ajuda a Deus e acabamos por cometer erros gravíssimos.
Qual é a área que estamos selecionando achando que daremos melhor conta do recado, do que Deus?


2.2. A DESCONFIANÇA FAZ-NOS SERMOS DEPENDENTES DAS CIRCUNSTÂNCIAS: 
1 DEUS é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. 2 Portanto [conclusão] não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares. 3 Ainda que as águas rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza. (Selá.) Slm 46.1-3
Precisamos muito mais do que simplesmente guiar-nos pelas circunstâncias. Uma pessoa que é dependente das circunstâncias jamais alcançará a libertação total para o serviço ao Senhor.

"E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR."  (Jó 1:21)
Quando Jó afirma tal coisa, nota-se claramente que ele não depende das circunstâncias para reafirmar sua confiança em Deus. As circunstancias exigiam um veredito contrário.
O povo de Israel, quantas vezes dependia das circunstâncias afim de confiar ou não em Deus?
O povo judeu, quantas vezes não pediu uma prova circunstancial, afim de poder crer em Jesus?
Jesus disse a Tomé: “Porque me viste, Tomé, creste?” Jo. 20.29
Mais uma vez, podemos pensar:
Mas, como posso vencer a desconfiança em Deus, quando as circunstâncias são adversas?
Pelo confronto, ou seja, Confiando.


2.3. A DESCONFIANÇA EM DEUS LEVA-NOS A AGIR DE FORMA INSEGURA:
A insegurança no agir contrapõe-se ao agir com segurança. Isto implica não apenas fazer o melhor que pode ser feito, mas o que deve realmente ser feito, certos disto mesmo.
Quantas vezes não fazemos o nosso melhor, mas mesmo assim sentimo-nos inseguros?
A insegurança, não provém de fazer o melhor, mas da incerteza se realmente o nosso melhor é o certo em determinado momento.

Deixe-me ilustrar isso do seguinte modo:
Pressuponho que em medicina deverá haver determinados momentos em que, um médico, faça o melhor pelo seu paciente, mas não tem a certeza se este melhor resultará de forma eficaz.
Enquanto, não há amostras de melhoramento e evolução do caso, o médico, o cirurgião permanecerá inseguro quanto ao que foi feito. É a combinação exacta de “o nosso melhor” e “o certo” que causa espanto e admiração. O médico fez o seu melhor e o seu melhor foi o que resultou. Todavia, nem sempre é assim.

Quando parte-se de uma certeza, de uma confiança inicial, não há qualquer tipo de admiração nos resultados. Os resultados são apenas a confirmação daquilo que esperava-se que acontecesse.
Jamais vemos Jesus admirado pelas orações respondidas ou milagres efetuados.  Porquê?
Jesus disse, que sabia que o Pai sempre O ouvia:
Eu bem sei que sempre me ouves, mas eu disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que tu me enviaste.  (Jo 11:42)

Logo, jamais havia incertezas em seu coração. E porque não? 
Porque Jesus confiava plenamente no Pai e conhecia Sua vontade para cada momento, para cada passo, para cada viagem, cada decisão, etc.
Parece um círculo e na verdade até é. Quando é quebrado o elo da confiança parte-se para a desconfiança e consequentemente agimos com total insegurança.


2.4. A DESCONFIANÇA FAZ-NOS AGIR DE FORMA DESESPERADA:
Se por um lado o medo atrapalha a confiança ou a fé e faz-nos agir de forma insegura, por outro a confiança é precisamente uma atitude de não desesperar, pois também o desespero conduz ao medo (como visto anteriormente).
Atentemos para os grandes heróis da fé, (ex: Abraão, o pai da fé), e os encontraremos em algum momento da história, completamente atrofiados pelo medo produzido pela falta de confiança.

Nunca agimos de forma desesperada numa determinada situação, conduzidos apenas pelo emocionalismo e sentimentos ?
Se sim, é sinal que realmente não confiamos n'Ele.
E não vale a pena argumentar novamente com a justificativa da normalidade. O normal é o cristão confiar inteiramente em seu Deus. Se ele falha nisso a única coisa que resta-lhe é fazer a oração de um pai desesperado:
E logo o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: Eu creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade. Mc 9.24

Confiar em Deus é algo tão profundo, que só em pensar deveríamos ser conduzidos ao temor e tremor. Se há, uma característica que traça o perfil de uma pessoa que confia em Deus, é ela saber exatamente, que não confia em Deus tanto quanto devia.
4 Em Deus louvarei a sua palavra, em Deus pus a minha confiança; não temerei o que me possa fazer a carne. 11 Em Deus tenho posto a minha confiança; não temerei o que me possa fazer o homem. (Slm 56:4,11)
O SENHOR está comigo; não temerei o que me pode fazer o homem. (Slm 118:6)
Eis que Deus é a minha salvação; nele confiarei, e não temerei, porque o SENHOR DEUS é a minha força e o meu cântico, e se tornou a minha salvação. (Is 12:2)
Se não colocarmos em Deus nossa esperança, para além de não descansarmos iremos proceder e até  sentirmo-nos desesperados.


2.5. A DESCONFIANÇA FAZ-NOS DISTORCER A REALIDADE:
Encontre uma pessoa desconfiada seja em que área for, esta sempre terá a tendência de ampliar ou diminuir a realidade, e será detentora de uma dificuldade enorme de aceitar a realidade.
Pensemos em Isaque. Ele foi supostamente levado a mentir porque imaginou em seu coração que as coisas iriam processar-se exactamente da forma como imaginara.
Pensou, que por causa de sua mulher ele corria perigo de vida. E até poderia ter acontecido, mas esta não foi a realidade dos factos.
O texto não relata que aconteceu algum tipo de envolvimento entre Abimeleque ou alguém do seu povo com Rebeca, mas que perante a mentira de Isaque poderia facilmente ter acontecido. (Gn 26.9,10)

O mesmo não aconteceu com Sara perante Faraó e Abimeleque (Gn 12.19,Gn 20.2)

Voltemos novamente às promessas que Deus o havia feito. Porque ele distorceu aquilo que Deus havia-lhe confirmado antes de ele chegar a Gerar? (Gn 26.3)
Isto era o que Isaque deveria ter mais certo. Esta era a realidade efectiva. No entanto Isaque a interpretou do modo mais negro possível. “Vão matar-me”
"Porque, como imaginou no seu coração, assim é ele..." (Prov 23:7)
Confia no SENHOR de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento. (Prov 3:5)


Receba nossos artigos em seu email:


Delivered by FeedBurner

0 comentários:

Enviar um comentário

Seus comentários são importantes para o blog. Deixe sua apreciação negativa ou positiva, mas não seja neutro.

Reservo-me no direito de não publicar comentários anónimos, caso entenda como necessário ou qualquer outro tipo de comentários que saia da orientação do blog.
Qualquer tipo de comentários que traga linguagem abusiva ou ofensiva de igual modo serão descartados.